Era 10 de junho de 1984, final de Roland Garros. McEnroe, que vinha da marca de 82 vitórias e apenas três derrotas, enfrenta o checo Ivan Lendl. Os dois primeiros sets foram dominados pelo americano. O que se passou a seguir faz parte da história do tênis moderno. Deparado com a possibilidade de um desfecho que não a perfeição, McEnroe se descontrola. A raquete voa para um lado, sua racionalidade para o outro – em um fiasco que o torna uma espécie de enfant térrible do esporte, mas que também comprova a máxima de que “o cinema mente, o esporte não”. Tanto que, ainda hoje, você acha vídeos dos piores fiascos de McEnroe em competições de tênis (Lendl levou a partida e o torneio, diga-se de passagem).
Por que a introdução, é o que você provavelmente se pergunta. Trinta e cinco anos depois, em um campo frequentemente invadidos por cavalos e margeado por guaipecas, a perfeição passou perto e, longe de segurá-la com as mãos – ou de dominá-la com as chuteiras – um dos nossos se desequilibrou. O La Barca enfrentava o Vila Cristal, time que constitui história na várzea com seus 80 anos de atividade no CT Progresso. A partida, atrasada pela preguiça de sábado e pela chuva, começou com gol já aos 4 minutos – Tião entregou para Nando completar. O mesmo Tião fez o segundo, dois minutos depois.
A perfeição, quando se desenha, pega todos de surpresa. Até o fim do primeiro tempo, cinco gols anotados para o plantel aurinegro, que volta para o segundo tempo com uma nova chegada – a de Belini, que surpreendeu com duas assistências durante sua primeira partida pelo time. Os lances foram os mais assombrosos – drible no goleiro, golaço de cabeça, arrancada livre desde o meio. O gol de desconto time adversário ficou encravado no meio da partida, como mera formalidade. E, mesmo que o Vila Cristal tenha marcado mais duas vezes, isso não chegou a se transformar numa reação.
E é em algo que ameaça o equilíbrio de nossa perfeição, tão bem arquitetada com dribles, voleios e os quatro gols de Nando, que mora nosso pior inimigo. Desconfiado do juiz, Badeco (que fazia excelente jogo, mesmo sem gols) se exalta e vai quase às vias de fato. O que se passou a seguir foi um espetáculo à parte – cenas para serem lembradas nas comemorações de dez anos do clube. Como bons amigos, Kiko e Cléber, este até então organizando o time à beira do campo, impediram Obadias de desferir catiripapos no árbitro Moisés.
A perfeição estava ao lado – e que bom que não chegamos a ela. Foi bem mais divertido.
* Crônica de Fernanda Grabauska
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